sábado, 18 de setembro de 2010

Ninharias (trechos)


Meu espectro vaga as ruas
desta São Luís errante,
sob os sóis e suas bundas
lá ao norte do mirante.

Sol-posto em manhã de usuras,
rédeas em meu posto-ser,
embora sou-me às suas
o que em mim há de te ser.

Aflijo-me, após caio
em assoalhos de vento,
volto, após parto
no meu parto de feto.

Valho o ser sem valor,
seu sífilis, suas chagas,
suas velhas cosas sou,
cosas suas velhas pardas.

As pragas que te empesta
a púbis, é o teu estar,
roendo o osso que resta
ao teu resto tapar,

tua vácua presença humana,
as vozes do teu haver,
as tetas de tua mama
e o teu maldito por quê.

Rogo um além qualquer
no púlpito do santo-cacareco
e peço-lhe fezes-fé,
um adeus que me não meço.

E enquanto à noite venho,
cá dentro deste eterno ser
que não possas onde lenho
se fazer qualquer por quê.

Mas em Ti não há teu Ser,
nem o Ser que em Ti há,
foi-te incrédulo ao crer
no ignoto sonho ao mar.

A mim, desfeito em pó,
não cabe o ser-te os sois,
sob este sol de rococó
nos poréns de teus depois.

Sorris-te assim de quê?
Ai de ti, ser do além!
Vejo-o, todo a mercê,
dentre o Kyrie e o amém.

Durmo no seio que me nutre
de lembranças não havidas,
no haver-me carniça em abutre
que se enchem às vísceras minhas.

De gadanho um pseudo me lavra,
posto que não me entranho
qual me entranha a verme larva,
não sozinha, aos bandos,

entupindo-me em dissabores,
às avessas se alimentando
da minha carne em sabores
góticos em pitada de antanho.

Quantas partes me amputaram?
Tiram-me a mais-valia
deste cerco de arame farpado
a rasgar-me tantas tripas,

a molharem este século
de nódoas futurísticas
do insalubre que me servo
rente a poça logarítmica,

neste bicho que me estou
guardado só por estar,
perto ao baço que me vou
junto às merdas soçobrar...

Um comentário:

  1. eu compraria teu livro !!!heuheuehueheuheueh
    (vergonha de seguir, teu blog humilha o meu heuheuehueheuheuehueheueh)
    Ótimo!

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