sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Badulaques...

E durmo tarde, sem abrigo,
na cegueira das crendices
ladeadas em jazigo:
jaz aquele quem disse

os segredos do que fora
sangue de mim, gastas hemácias,
defunto que em nódoas escoa
o pus da úlcera casta,

puindo a linha, cosida e posta
no coser-me de nada,
tempo em quilo de bosta
qual sabor de uma baga.

Ah, já percebeste?
Vais passando tua matéria,
junto ao corpo deste.
Vês? Entopem-lhe a artéria

e devoram-te os pâncreas,
põem-te as gotas do fim
no nascer do goro à ânsia,
no passar do porvir.

E assim me consome a sede
de beber o próprio ego,
de beber da seiva o leite
e da flauta o céu de Febo,

à procura de um alguém,
onde baste a solidão.
Em cativeiro fui refém,
pouca água, nenhum pão,

um poço de dias bolorentos
e à fundo estar os outros,
outro corpo em cimento
no raiar, no transposto.

Passam os séculos e o agora
e nenhum soldo me compra,
sequer o que me sobra
de uma obra não pronta,

do meu cordão umbilical,
nascido no domingo,
em um mês formal,
no berço em que mínguo.

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