segunda-feira, 22 de novembro de 2010

DESABAFO

...talvez ainda exista um restinho de sensibilidade entre as pessoas, neste convívio social que se diz contemporâneo devido à convenção numérica das vinte e quatro horas. Por que digo-lhes isso? Porque o que apenas vejo ao meu redor são paredes, algo rústico em flores de betume, idolatrias exasperantes e uma tosquiação dos que se elevam, uma cusparada feita ofício. E o que é o viver? É integrar-se a um partido político e a uma religião e viver discutindo incessantemente a ambos, ou será apenas dizer que se é crédulo? Se isso é o viver, por favor, ponham-me vivo em qualquer mausoléu ou me joguem no além-mar, longe, bem longe das doutrinas que escarram em meus companheiros, longe dos postiços sorrisos, dos que se prendem à frente dos porcos. Por favor! Todos os dias assim se vão, às daninhas entupindo-me as artérias, mijando sobre mim os seres-empáfia daqui e de acolá, sendo que, às vezes, vontade do suicídio não falta, pois me encontro cortado rente aos que afundam paulatinamente, perto ao sopé do sol das quatro e meia. Alguns ainda dizem que sou louco. E o que é ser louco? O que é loucura? Será louco aquele que não vive dentro em uma garrafa? Então louco prefiro ser. Será louco aquele que não se deixa engaiolar, como um pássaro silvestre em cativeiro? Então louco prefiro ser. Sei que às planícies não me encontro como muitos, nesta densa reta, desvestida das bifurcações e onde os entulhos encontrados nada mais são que obstáculos e motivos de choro...

Anestesia

Quantas auroras me sucumbem o ser
neste acordar sem o solar dos teus?
Viste a forma do teu menos crer
nesta vil fé que amamenta os meus? 
Quantas tuas formas és-me ao Reviver
outras amoras de um São Deus Ateu?
Ó minhas lógicas de um não prover
mil vezes às sogras qual proveram um Deus,
mesmo ao abortado sonho que me foi
tetas eufóricas quando ao uno em dois
sove meus músculos dito às vozes tal.
Quantas seis horas ditas mesmo em vão
faz-se minutos, embora em séculos cão,
faz-me o miúdo humano todo em cal?